n.77 | 2018 – Suscitar o verdadeiro estado de exceção infantil

Rafael Sánchez-Mateos Paniagua

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Neste texto, Rafael SM Paniagua pensa a infância em relação aos mecanismos de poder, atento também às lógicas do desejo e da imaginação. Único passado comum a todas as vidas, de todos os tempos, de todos os lugares, a infância continua sendo uma interrogação de primeira ordem: a qual vida somos chamados por ela?

“Talvez a ideia de que outro mundo é possível só possa ser sustentada com um pouco de infância […]. Por algum motivo, parece mais fácil admitir que, da criança ou dos que são tratados como ela, há que se esperar um pouco de obediência, em vez de discussões sobre a ordem imposta ou alternativas a ela. Contudo, do gesto infantil cabe esperar não só rupturas, descontinuidades, desobediências, contestações, desacatos, indisciplinas, insurreições, mas também imaginar lares, trabalhos, utopias. A infância é o lugar que pensamos estar despojado de utopia. Em vez de manifestar a boa ideia que temos da infância ou animar uma nova teoria romântica sobre ela, propomos um novo tratamento dela — e com as crianças ou os que são associados a elas, de modo que possamos frequentar outra ideia de crescimento, não condicionada ao abandono da infância, mas à capacidade de criar novos laços com ela e com suas forças.”

Tradução
Marcos Visnadi

Maio de 2018