n.174 | 2024 Orelhas

Melinna Guerrero

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Descrição

Este breve ensaio é uma anatomia improvável das orelhas – as suas curvas, a duração do tempo de vida medida pela sua espessura e seu tamanho, o  labirinto de pele e cartilagem que guarda o invisível, a surdez para o que está fora do corpo e a conversão das orelhas aos sons internos ou ao silêncio. Essa anatomia é escrita diante da orelha dos outros, tão próximos, que nos escutam – irmãos, pai, mãe, avô, avó – de modo que nelas também se encena um léxico familiar. Ao mesmo tempo, essa anatomia destina-se ao leitor como uma pergunta, porque também sabe que as orelhas são, como outras partes do corpo, aquilo que só podemos ver na relação com os outros. Essa anatomia das orelhas é improvável não porque tenha pouca possibilidade, e sim porque escapa à prova e convoca à experiência. Afinal, as orelhas não são senão perguntas, dobras no corpo que formam dois alongados pontos de interrogação.

“Só através de uma fotografia podemos ver as próprias orelhas. É impossível vê-las de outra maneira; existir e ver nossas orelhas. São os outros que sabem de que maneira elas estão posicionadas em nós e o que existe dentro delas. Sendo assim, as orelhas constituem um lugar que nunca poderemos visitar, a menos que seja através de um terceiro, através daqueles aos quais entregamos nossa confiança para que as observem.

Somos uma terra distante para nós mesmos […].”

Edição
Maria Carolina Fenati

Tradução
Clara Delgado

Revisão da tradução
Gabriel Bueno

Preparação de texto
Maria Carolina Fenati

Revisão
Andrea Stahel

Projeto gráfico
Luísa Rabello

Coordenação da coleção
Luísa Rabello, Maria Carolina Fenati

Junho de 2024