Descrição
Em “Notas sobre os doentes de velocidade”, Vivian Abenshushan dedica-se a pensar o processo de aceleração do tempo na história, que começa pela fábrica e por sua produção regrada, e se espraia por todos os aspectos do cotidiano, inclusive pelas relações íntimas. Neste ensaio fragmentário, ao discorrer sobre os prazeres e as catástrofes da velocidade, ela lembra que o corpo pode se rebelar, com episódios de burnout ou, no limite, nos casos de morte por excesso de trabalho (karoshi) ou de suicídio pelo desespero do desemprego. Talvez tudo isto seja irreversível, estamos doentes, talvez moribundos (é aqui que este ensaio se parece com um informe clínico). Todavia, se ainda estamos vivos, num longo e lento respiro, podemos imaginar máquinas de desacelerar o tempo (qualquer coisa como moinhos muito lentos que fizessem toda a engrenagem do tempo girar de outro modo): entre estas máquinas está, talvez, a literatura.
“O século XIX foi simultaneamente o século da Revolução Industrial e a era dos grandes comedores de ópio. De que outro modo era possível suportar uma vida dedicada a apertar parafusos no mesmo lugar, doze horas por dia? Tanto trabalho sem valor, tanta pressa, semearam vários inválidos nas casas de ópio e nas tabernas. A chegada da máquina cumpria os ideais da industrialização, mas logo isso saiu do confinamento das fábricas para encadear os ritmos da vida urbana. De um momento para outro, a celeridade das cidades sepultava os costumes que haviam prevalecido durante séculos, associados aos ritmos agrícolas, às festas religiosas, aos períodos de trabalho e ócio da oficina familiar. A experiência era vertiginosa, excitante, e ao mesmo tempo produzia uma alteração profunda, uma ansiedade incurável.”
Este projeto foi realizado com recursos da Lei Municipal de Incentivo à Cultura de Belo Horizonte. Patrocínio UniBH.
Projeto 0699/2017.