Descrição
Este ensaio é sobre correr e escrever, sobre a escrita enquanto corrida, e sobre os rastros e o ritmo da corrida e da escrita. As palavras de outros autores cruzam com aquelas de Julio Trujillo enquanto ele percorre um território em que quase nada está parado, onde tudo move-se à sua maneira. Com os dois pés no chão ou com ambos no ar, correr é experimentar o que escapa embaixo dos pés, e também a atração de voltar a pousá-los. Estes gestos estão na história – dos deuses, da literatura, do mundo, do corpo – e na magia – como escreve Trujillo, correr buscando uma velocidade na qual desaparecer, ou Alfonso Reyes sobre os corredores tarahumaras, correr e talvez saltar a muralha dos cinco sentidos.
“Há vários dias tenho corrido na praia, mantendo-me sempre na faixa de areia dura e escura onde a água acaba de se retirar, ao mesmo tempo que brinco que sou eu quem traça, com os pés, a linha louca do mar sobre a orla. É um deslocamento serpenteante que me distrai do rigor de afundar e retirar os pés dessa pista natural, duplamente exigente, onde minhas pegadas gravam-se e quase imediatamente desaparecem. Penso em um poema de Mark Strand, em que diz que, onde quer que esteja, ele é a parte que falta, o espaço deslocado pelo seu corpo (ele o diz ainda melhor: “em um campo, sou a ausência de campo”). Ao mover-se, as coisas atrás dele recuperam sua integridade, como o espaço de minhas pegadas refazendo-se com os trabalhos da água, e como o próprio mar, que sempre recomeça.”