n.176 | 2024 Basta correr

Julio Trujillo

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Descrição

Este ensaio é sobre correr e escrever, sobre a escrita enquanto corrida, e sobre os rastros e o ritmo da corrida e da escrita. As palavras de outros autores cruzam com aquelas de Julio Trujillo enquanto ele percorre um território em que quase nada está parado, onde tudo move-se à sua maneira. Com os dois pés no chão ou com ambos no ar, correr é experimentar o que escapa embaixo dos pés, e também a atração de voltar a pousá-los. Estes gestos estão na história – dos deuses, da literatura, do mundo, do corpo – e na magia – como escreve Trujillo, correr buscando uma velocidade na qual desaparecer, ou Alfonso Reyes sobre os corredores tarahumaras, correr e talvez saltar a muralha dos cinco sentidos.

Há vários dias tenho corrido na praia, mantendo-me sempre na faixa de areia dura e escura onde a água acaba de se retirar, ao mesmo tempo que brinco que sou eu quem traça, com os pés, a linha louca do mar sobre a orla. É um deslocamento serpenteante que me distrai do rigor de afundar e retirar os pés dessa pista natural, duplamente exigente, onde minhas pegadas gravam-se e quase imediatamente desaparecem. Penso em um poema de Mark Strand, em que diz que, onde quer que esteja, ele é a parte que falta, o espaço deslocado pelo seu corpo (ele o diz ainda melhor: “em um campo, sou a ausência de campo”). Ao mover-se, as coisas atrás dele recuperam sua integridade, como o espaço de minhas pegadas refazendo-se com os trabalhos da água, e como o próprio mar, que sempre recomeça.”

Edição e preparação de texto
Maria Carolina Fenati

Tradução
Thiago Panini

Revisão da tradução
Gabriel Bueno

Revisão
Andrea Stahel

Projeto gráfico
Luísa Rabello

Coordenação da coleção
Luísa Rabello, Maria Carolina Fenati

Belo Horizonte, agosto de 2024