Descrição
Esta é uma carta afetuosa e amorosa, áspera e dura, de um homem negro ao seu sobrinho também negro, quando os Estados Unidos celebravam cem anos da Emancipação. A quem se destina e a quem se deve destinar a emancipação? – essa pergunta ronda o fundo dessa carta, que afirma que é cedo para celebrar a liberdade, que o caminho é longo, vem de longe e continua. Na carta estão também as memórias familiares, o laço entre o tio e o seu irmão, entre o sobrinho e seus pais, a força das mulheres que antecederam esses homens, e a luta de cada um deles por si e pelos seus. Inseparável dessas memórias, está a narrativa sobre uma dor compartilhada: “você nasceu onde nasceu, e encara o tipo de futuro que está encarando, pois é preto, por nenhuma outra razão”. Esta é uma carta de amor que, entre a dor e a dureza, funda a sobrevivência no vínculo: “se não tivéssemos nos amado, nenhum de nós teria sobrevivido”.
“Por favor, querido James, tente ter clareza, através da tempestade que recai sobre sua jovem cabeça hoje, sobre a realidade por detrás das palavras aceitação e integração. Não há motivos para você tentar ser como a gente branca e não há qualquer base para o pressuposto que nutrem de que são eles que devem aceitar você. A coisa realmente terrível, velho camarada, é você ter que aceitá-los. E eu falo bem sério aqui. Você tem a obrigação de aceitá-los e aceitá-los com amor. Pois a essa gente ingênua não resta outra esperança. Com efeito, eles ainda estão encurralados em uma história que não compreendem; e até fazerem-no, não se verão livres da armadilha.”