Description
Este ensaio é sobre o que sentimos ao escrever. Não é raro pressupor que deveríamos desfrutar – o gesto de alinhar algumas palavras parece prometer uma sensação agradável, talvez como a de tomar um sorvete, ou estirar-se ao sol. Todavia, nem sempre é assim: há quem não desfrute, mesmo que tenha escolhido dedicar a sua vida à escrita. Há quem se sinta ameaçado, e prefira escrever para se salvaguardar de qualquer coisa de muito ameaçador (a loucura, por exemplo) e outros que escrevem porque é mais fácil do que não o fazer. É claro que há também aqueles que escrevem por sentir um enorme prazer. A partir de breves testemunhos de escritores, esse ensaio reafirma que as relações com a escrita não se limitam à recompensa ou ao sacrifício, e sim afirmam-se variáveis e imprevisíveis.
“[…] sentir-se mal não é a regra, mas sentir-se bem também não: cada um deveria encontrar seu método, o ponto exato de pressão, confinamento, asfixia ou ausência de todas essas coisas para que a produção flua melhor. No entanto, indo mais além, o ponto é que não importa. Desfrutar ou não desfrutar: não importa. Desfrutar não deveria ser a aspiração de alguém que escreve. Uma pessoa escreve para organizar o mundo, ou para desorganizá-lo, ou para entendê-lo, ou, porque se não o faz fica com tosse, ou, porque, como dizia Fogwill, ‘é mais fácil que evitar a sensação de sem sentido de não o fazer’.”
Este projeto foi realizado com recursos da Lei Municipal de Incentivo à Cultura de Belo Horizonte. Projeto 0182/2021.