n.146 | 2022 – E agora que estou no futuro, permaneço

Francesca Cricelli

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Descrição

A partir de um poema de Arsenii Tarkovski, Francesca Cricelli tece uma escrita que transita entre ficção e memória, sonho e diário. A autora divaga sobre o desejo e o medo da maternidade – suas amarras sociais e biológicas – e a busca por pertencimento. Enquanto se prepara para mudar para a Islândia, relembra episódios da sua juventude e repensa suas leituras e traduções.

“Sou filha de uma gravidez não planejada, fruto do encontro— quero crer passional—entre dois jovens que talvez estivessem perdidos e à deriva de si. Engravidar para mim, por muitos anos, só podia acontecer acidentalmente, por um descuido, nunca por planejamento. E apesar de todo o amor assegurado e recebido, pairava no ar o sacrifício que haviam feito para trazer-me ao mundo. É melhor esperar. Teria minha mãe hesitado levar a termo essa gravidez? Ela escreveu um poema intitulado aquiescência enquanto estava no começo da gestação, ainda vivia em Brasília e estudava relações internacionais, enviou-o para meu pai. Disse que não hesitou. Eu não acredito, mas sinto imensa gratidão pela aquiescência, sou um ser tão atado à vida e desmancho-me ao pensar na ternura com que ela me conta isso, tentando me preservar da ambiguidade dos seus sentimentos.”

Este projeto foi realizado com recursos da Lei Municipal de Incentivo à Cultura de Belo Horizonte. Projeto 0182/2021.

Edição e preparação de texto
Maria Carolina Junqueira Fenati

Revisão
Andrea Stahel

Projeto gráfico
Felipe Carnevalli e Paula Lobato

Coordenação da coleção
Luísa Rabello, Maria Carolina Fenati

ISSN 2764-3301

Belo Horizonte, abril de 2022