n.144 | 2022 – Curadoria como poder e trabalho, e algumas notas sobre a capitalização do amor

Patrícia Mourão de Andrade

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Descrição

Neste ensaio, o exercício da curadoria de cinema nos últimos anos no Brasil é pensado não exatamente a partir da análise dos filmes escolhidos, e sim da crítica ao modo de escolhê-los. Numa perspectiva feminista-marxista, desmantela a ideia de curadoria como poder e propõe incorporar à discussão o problema do labor e do trabalho. Atento para os engajamentos afetivos e libidinais que muitas vezes marcam e permitem o trabalho da cultura, o ensaio afirma a perversidade de sua apropriação pela máquina pós-fordista e a armadilha narcísica que espreita o precariado da cultura.

“A máquina liberal pós-fordista soube capturar muito bem a liberdade e a libido do artista ou do trabalhador da cultura que age por amor, transformando-o em modelo ideal para todo e qualquer profissional. A alienação não consiste mais em doar horas de vida para o trabalho, e sim em doar seu amor, seu prazer e gozo. O operário deve amar o que faz a ponto de não separar mais vida e trabalho. Se essa cooptação do artista e do trabalhador da cultura pelo capitalismo tardio é tão bem-sucedida é porque artistas e trabalhadores da cultura, primeiramente, deixaram-se seduzir por essa imagem de sua excepcionalidade. Outsiders, mas excepcionais. Fudidas, incompreendidas, desprezadas, maltratadas, mas “gênias”, “divas”, “perfeitas”. Narcisicamente acreditamos em nossa excepcionalidade e em nossa missão.”

Este projeto foi realizado com recursos da Lei Municipal de Incentivo à Cultura de Belo Horizonte. Projeto 0182/2021.

Edição e preparação de texto
Maria Carolina Fenati 

Revisão
Andrea Stahel

Projeto gráfico
Mateus Acioli

Coordenação da coleção
Luísa Rabello, Maria Carolina Fenati

ISSN 2764-3301

Belo Horizonte, março de 2022