Description
Neste ensaio, o exercício da curadoria de cinema nos últimos anos no Brasil é pensado não exatamente a partir da análise dos filmes escolhidos, e sim da crítica ao modo de escolhê-los. Numa perspectiva feminista-marxista, desmantela a ideia de curadoria como poder e propõe incorporar à discussão o problema do labor e do trabalho. Atento para os engajamentos afetivos e libidinais que muitas vezes marcam e permitem o trabalho da cultura, o ensaio afirma a perversidade de sua apropriação pela máquina pós-fordista e a armadilha narcísica que espreita o precariado da cultura.
“A máquina liberal pós-fordista soube capturar muito bem a liberdade e a libido do artista ou do trabalhador da cultura que age por amor, transformando-o em modelo ideal para todo e qualquer profissional. A alienação não consiste mais em doar horas de vida para o trabalho, e sim em doar seu amor, seu prazer e gozo. O operário deve amar o que faz a ponto de não separar mais vida e trabalho. Se essa cooptação do artista e do trabalhador da cultura pelo capitalismo tardio é tão bem-sucedida é porque artistas e trabalhadores da cultura, primeiramente, deixaram-se seduzir por essa imagem de sua excepcionalidade. Outsiders, mas excepcionais. Fudidas, incompreendidas, desprezadas, maltratadas, mas “gênias”, “divas”, “perfeitas”. Narcisicamente acreditamos em nossa excepcionalidade e em nossa missão.”
Este projeto foi realizado com recursos da Lei Municipal de Incentivo à Cultura de Belo Horizonte. Projeto 0182/2021.