Descrição
Raros são os artistas / escritores que vivem do seu ofício e, mesmo insistindo em não abandoná-lo, vêem-se repetidamente envolvidos noutros trabalhos ou desempregados. Como conciliar a criação e o confinamento em espaços que transformam funcionários em tristes “girassóis lunares” à procura da luz esbranquiçada? De um lado a resistência, a leitura de poesia em horário de expediente. De outro a poética do ócio, um libelo contra as formas de opressão criativa do capital. Assim este texto caminha, entre o ensaio e a poesia: o estado suspenso do desemprego como forma suspensa de escrita.
“Minha mãe diz que a noite agrava os doentes. Penso que, do mesmo modo, o poder da noite se aninha no solitário corpo invisível, para quem o comichão no pescoço se torna o único sinal vital e, ao mesmo tempo, um escape sob o verdugo que dá e exerce a ordem da permanência: o chefe. Esse corpo abraça a ferida da noite como signo de humildade e, sarcasticamente, de liberdade. ‘Talvez esteja longe da felicidade plena’, afirma Walser. Talvez essa hora inabarcável do dia nos liberte um pouco da existência grandiloquente, que pode se tornar muito pesada nas horas de maior trânsito.”
Este projeto foi realizado com recursos da Lei Municipal de Incentivo à Cultura de Belo Horizonte. Projeto 0182/2021.