Descrição
Escrito por Ana Carolina Moreno, jornalista na cobertura da Covid-19 e estudante de graduação em letras, este ensaio discorre sobre o limiar da humanidade. O exercício, quase contraintuitivamente, inicia a reflexão a partir de três representações fictícias do maior mamífero terrestre do planeta: o elefante. Ele aparece em uma inusitada luta anti-caça na África feita por um sobrevivente do Holocausto; na jornada de um jovem desfigurado em Londres e no gráfico de mortes diárias por Covid-19 no Brasil, publicado semanalmente no boletim epidemiológico do Ministério da Saúde. Esse último elefante, menos óbvio, surge de uma experiência sensorial após um mergulho profundo nas estatísticas – a sensibilidade às vidas perdidas atrás de cada barra do gráfico foi a única maneira de garantir o retorno à superfície.
“Outro elefante, que aqui será batizado de elefante epidemiológico, entrou sem alarde na sala de estar do Brasil em 18 de junho de 2020. Estava escondido na página 31 do arquivo Boletim-epidemiologico-COVID-2.pdf. Pintado de cinza-elefante, de perfil, sentado sobre as quatro patas, com a tromba estendida à frente, criando um contorno sem muitos detalhes, que desenha, da esquerda para a direita, um pico onde fica a cabeça do elefante seguido de um longo período de estabilidade, do tamanho do corpo do animal, e depois volta a descer, fazendo uma curva rumo ao chão, como se fosse o traseiro dele.”
Este projeto foi realizado com recursos da Lei Municipal de Incentivo à Cultura de Belo Horizonte. Projeto 1094/2020.