n.128 | 2021 – Carta aberta para uma puta de minha juventude

Camila Sosa Villada

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Descrição

Esta é uma carta assinada por Camila Sosa Villada, escritora e atriz transgênero, e destinada a uma amiga prostituta com a qual conviveu no início da juventude e que agora está ausente. É um testemunho ao mesmo tempo nostálgico e contemporâneo, resignado e insubmisso, afetuoso e áspero. A prostituição no Parque Sarmiento, a amizade, o dinheiro, as crianças, os clientes, a nostalgia, os seios, as figurações da intimidade, os testemunhos da invisibilidade no espaço público – esta carta compõe-se de tudo isso e há um devir literatura que a arrasta porque trata-se também de um exercício de escrita em que a língua é dobrada para escutar a experiência minoritária de algumas mulheres, vidas “à beira do selvagem”, ironicamente vividas em plena zona central de uma grande cidade.

“Nunca soubemos onde foi parar o nosso dinheiro. Porque precisava ver que jeito para abrir braguilhas! Era uma festa. A festa da abundância, nosso banquete secreto, braguilhas se abrindo, carteiras se queixando. Mas nunca conseguimos mais que o suficiente para as compras do dia. Por que terá sido assim? Éramos as mais baratas. Eu porque não tinha tetas, você porque era mulher. As travestis, as rainhas, elas todas reconstituídas, com peitos por toda parte, elas eram enormes peitos que sabiam o quanto se devia cobrar.
Você sabe algo da Gabriela?”

 

[Não recomendado para menores de 14 anos]

Este projeto foi realizado com recursos da Lei Municipal de Incentivo à Cultura de Belo Horizonte. Projeto 1094/2020.

Edição
Maria Carolina Fenati

Tradução
Florência Guzzetti
Thiago Panini Primolan

Revisão da tradução
Gabriela Albuquerque

Revisão
Andrea Stahel

Projeto gráfico
Rita Davis

Coordenação da edição
Luísa Rabello
Maria Carolina Fenati

Junho de 2021