Descrição
Em “Genealogia do ocioso”, publicado originalmente no livro Escritos para desocupados, Vivian Abenshushan pinça um dos nervos inflamados da sociedade contemporênea: o trabalho. Estamos permanentemente ocupados, vivemos alienados da nossa própria existência, e talvez por isso seja tão decisivo buscar a genealogia do ocioso, este primo distante perto de quem, talvez, more a nossa saúde. Abenshushan se dedica então a reler a bíblia, e nela a diferença entre os caminhos de Abel e Caim.
“Uma coisa é certa: a interpretação traiçoeira do castigo divino – não importa se é a expulsão do paraíso judaico-cristão ou o fim da Idade de Ouro entre os gregos – afanou da maioria da humanidade um direito que deveria ser inalienável e universal: o direito ao repouso. Enquanto isso, uma minoria (nobres, bispos, potentados, rentistas, caciques políticos, banqueiros) tem se dedicado simplesmente a garantir o cumprimento da pena terrena, em troca da promessa de uma salvação futura (se você for um bom trabalhador, oportuno e submisso, vai para o céu), tornando a vida das multidões suadas e anônimas uma longa espera do fim de semana da eternidade. Essa é a missa do emprego em que todos devem comungar, inclusive nessa época sem deuses e cheia de trabalho, na qual enfiar dados num computador carece de qualquer mérito espiritual.”
Este projeto foi realizado com recursos da Lei Municipal de Incentivo à Cultura de Belo Horizonte. Patrocínio UniBH. Projeto 0699/2017.