Descrição
Este é um ensaio sobre a intimidade entre saber e sabor, entre os ingredientes e as palavras, entre os pratos e os versos. Escreve-se sobre o modo de tratar as frutas, os legumes e as palavras, e nos gestos de quem cozinha e de quem escreve distinguem-se o profissionalismo destro, e o amadorismo quase desajeitado e apaixonado. É um ensaio sobre sentir o gosto, na língua e no pensamento, de cada elemento e a beleza da sua presença.
“O velho Sando, insone, se pergunta, olhando o teto, pela etimologia de um nome local, em que a mesma palavra significa pensamento e sabor. ‘O pensamento é apenas a abertura da razão para as profundezas do mistério, que nada mais é do que o mistério do sabor, ou seja, o mistério do incomunicável’. O sabor é um fenômeno que não pode ser compartilhado por palavras. Ele requer o corpo e a experiência: é possível esboçar algumas aproximações, mas nunca serão suficientes. A essas tentativas, Don Sando chama poesia, e ‘a poesia não acaba com o mistério, mas lhe dá forma, permitindo-nos apreciar o mistério do sabor desde o limiar do pensamento. É aí, na poesia, que o sabor se torna imagem, se torna música, atrito do corpo a corpo’.”