Descrição
Este caderno traz a tradução do artigo de Bruno Latour, “A Europa só, só a Europa”, seguida do comentário-ensaio de Luciana Brandão e Felipe Vargas, “Só a Europa só? E nós?”. Escrito no contexto das eleições presidenciais na França em 2017, o texto de Bruno Latour levanta uma série de questões em relação ao compromisso político e cidadão com as tópicas ambientais, abrindo caminhos para nos questionarmos sobre como a intrusão das mudanças climáticas (e sua sistemática negação) alteram o balanço de forças nas mais diferentes escalas, desde a micropolítica das nossas ações cotidianas até o macro-espaço habitado pela polarização da geopolítica global(izada). Seguindo estes caminhos, Luciana Brandão e Felipe Vargas propõem em seu texto um diálogo crítico com Latour, a partir do engajamento desde o Sul global. Como nos articulamos diante da intrusão das mudanças climáticas? De que formas os tentáculos do ceticismo climático adentram as fronteiras do terreno brasileiro latino-americano? E, mais pertinente, quais respostas podemos tecer sem nos desesperançar?
“O ‘trumpismo’ – se é que podemos empregar este termo – é uma inovação política que não se vê com frequência e que convém ser levada a sério. Da mesma forma que o fascismo soube, ele também, combinar os extremos, para a total surpresa dos políticos e analistas da época, o trumpismo combina os extremos e engana o seu mundo – pelo menos por enquanto.
Ao invés de fazer uma oposição entre as duas fugas – uma em direção à globalização e a outra em direção ao antigo campo do nacionalismo – o trumpismo age como se elas pudessem ser combinadas. Fusão que obviamente não é possível, se não fosse a negação da existência da situação de conflito entre a modernização de um lado e a condição material terrestre do outro. Daí a função do ceticismo climático, sem o qual a fusão é incompreensível.”