n.08 | 2012 – Perigo e teleologia

Gustavo Rubim

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Descrição

Agradecendo o convite para este encontro, gostaria de tomar a liberdade de levar à letra o seu pretexto declarado, que é a primeira publicação do livro Aquele Grande Rio Eufrates, em 1961. Significa que, apesar de nos reunirmos para falar de Ruy Belo, prefiro fazer como se, não apenas o pretexto mas o próprio objeto do encontro fosse só mesmo aquele livro, que a meu ver mais do que justificaria, sozinho, esta reunião. O “homem de palavra(s)” de que vou falar aqui não é, portanto, o autor do livro Homem de Palavra(s), mas apenas um poeta que em 1961 publicou o livro Aquele Grande Rio Eufrates e que em 1972 voltou a publicá-lo, modificado nos seus poemas e acompanhado de uma “Explicação que o autor houve por indispensável antepor a esta segunda edição” e que passou a fazer parte inapagável do livro, isto é, do seu texto e da sua história de livro corrigido. Estou convencido de que, caso tivesse acontecido Ruy Belo ser apenas esse poeta a que estou a restringi-lo, nem ele deixaria de poder definir-se como “homem de palavra(s)” — com este s incrustado entre parêntesis que complica um bocadinho, sem no entanto tornar ambígua, uma ideia aparentemente óbvia — nem a importância de Ruy Belo para a poesia em língua portuguesa sairia diminuída. Não pretendo, naturalmente, demonstrar o que, aliás, seria indemonstrável, quero só justificar nestes termos o facto de, sendo só a segunda vez que me ocupo com textos de Ruy Belo, repetir o gesto de escolher apenas esse primeiro livro e, dele, apenas um poema. Um poema de cada vez: em tempo de crises, restrições e urgências várias, acho que a poesia de Ruy Belo permite liberalmente, favorece e solicita este género de luxo que poderia definir a economia de um “homem de palavra(s)”