Descrição
Este texto de Rodrigo Moura foi escrito (mas afinal não publicado) para o catálogo da mostra Faça você mesmo sua Capela Sistina, individual de Pedro Moraleida (1977-1999) no Palácio das Artes, de 1º de setembro a 19 de novembro de 2017. Como outras exposições na época, esta foi atacada por uma espécie de reativismo conservador, e aqui Rodrigo Moura testemunha a agressividade e a tragicidade desta onda reacionária, ao mesmo tempo em que, a partir da obra de Moraleida, a ela resiste e escapa.
“Vou saindo de mansinho da exposição e quando dou por mim estou sendo perseguido por uma voz que me chama, que me grita, que me xinga, uma voz que tenho ouvido mais esses dias. Olho para trás e o que vejo é uma milícia, uma patrulha que acossa a mim e aos outros visitantes da exposição. Numa espécie de delírio, vou decifrando o que diz essa voz: ‘chuta, bate, expulsa, mata’, ela vai repetindo no seu hino surdo e seco, como se viesse do chão, entrando pela planta dos meus pés e chegando aos meus ouvidos pelos ocos do meu corpo.”