Descrição
Os desdobramentos políticos do pensamento de Giorgio Agamben podem ser constatados, para além das circunscrições temáticas, em toda sua obra: desde seus primeiros textos sobre questões ligadas às artes (O homem sem conteúdos), passando pelas problemáticas propriamente ontológicas (A linguagem e a morte) até, justamente, as análises mais detidas dos fundamentos da política ocidental (a série Homo Sacer). Este pequeno texto, publicado em fevereiro de 2018, é um desenvolvimento sintético do seu último livro (Karman. Breve trattato sull’azione, la colpa e il gesto. Torino: Bollati Boringhieri, 2017), e nele o filósofo toca um dos pontos fundamentais de todo seu pensamento: o gesto. Ultrapassando certos modos de percepção e definição do gesto, Agamben vislumbra no gesto uma pura medialidade sem fins, algo que, aos olhos do filósofo, seria uma possibilidade de nos recolocar em um novo embate com o que denominamos política:
“[…] a hipótese que pretendo sugerir é que a ética e a política sejam a esfera do gesto e não da ação, e que, na crise aparentemente sem saída que essas duas esferas estão atravessando, tenha chegado o momento de se perguntar o que poderia ser uma atividade humana que não conheça a dualidade dos fins e dos meios – que seja, nesse sentido, gestualidade integral. Trata-se de um paradigma que, na tradição do Ocidente cristão, está presente, talvez, apenas na condição de Adão e Eva no paraíso terrestre antes da queda, naquele ‘jardim das delícias’ onde, como diz Dante, ‘foi inocente a raiz humana’.”