Descrição
Este texto trata das relações entre a caça às bruxas e a ascenção do capitalismo. Se o combate ao poder feminino com raízes na idade média opera ainda seus efeitos na contemporaneidade – e este diagnóstico é trágico e um alerta de perigo –, esclarecê-lo é também desmascará-lo e, tomara, desarmá-lo.
“Uma condição prévia para o desenvolvimento do capitalismo foi a destruição da concepção mágica do corpo que prevalecia na Idade Média, que lhe atribuía poderes que a classe capitalista não poderia explorar e que pareciam incompatíveis com a transformação do trabalhador numa máquina de trabalho. Tratava-se do poder de voar, adivinhar o futuro, adquirir formas animais, regressar do túmulo para exercer vinganças e, acima de tudo, controlar os elementos da natureza.
É neste contexto que o ataque às mulheres deveria ser situado. Devido à sua relação única com o processo reprodutivo, em muitas das sociedades pré-capitalistas as mulheres eram consideradas particulares conhecedoras dos segredos da natureza que lhes permitiriam gerar a vida e a morte e descobrir as propriedades secretas das coisas. Praticar magia (como curandeiras, praticantes de medicina tradicional, ervanárias, parteiras, criadoras de poções de amor) também era para muitas mulheres uma forma de emprego e, sem dúvida, uma forma de poder, embora isso as deixasse expostas à vingança quando os seus remédios falhavam. Esta é uma das razões pelas quais as mulheres se tornaram o primeiro alvo da tentativa capitalista de criar uma concepção mecanizada do mundo.”
Este Caderno de Leituras foi realizado com recursos da Lei Municipal de Incentivo à Cultura de Belo Horizonte. Fundação Municipal de Cultura. Patrocínio UNA.