Descrição
Neste texto, Júlia de Carvalho Hansen tece considerações entre a experiência poética e as possibilidades de aprendizado e comunicação com as espécies vegetais.
“A primeira visão que tive ao beber ayahuasca foi me tornar uma planta amazônica. Dez anos atrás, de olhos fechados, os efeitos da ayahuasca subiram e o suave suor que eu emanava era a respiração úmida de uma planta de folha gorda e larga, dessas cheias de líquidos leitosos por dentro, convivendo entre outras plantas na selva. É importante marcar que, numa visão como esta, você não só vê com os olhos, como se sonhasse, como seu corpo inteiro vê, seu corpo inteiro é. A sinestesia é total, a respiração nota o ser vegetal que me tornei, a visão mostra, os músculos são as fibras da planta que sou. Tal dom da metamorfose eu só conhecia semelhança na literatura: se um verso diz, por exemplo, ‘a planta que sou respira’, quem o escuta, lê ou o escreve respira como planta.”