n.21 | 2013 – O sul também (não) existe — A arquitetura ficcional da América Latina

Eduardo Pellejero

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Descrição

Entre outras tantas aventuras intelectuais, o século XIX reservava à Europa o cansaço da cultura e a tristeza da carne, contaminando os sonhos dos seus poetas com fantasias de evasão. A ilusão de uma vida simples, sem as contradições que dilaceravam as cidades modernas, levaria alguns a fazerem-se ao mar (muitas vezes para desaparecer), mas sobretudo levantaria no vazio da literatura da época a utopia de um mundo virgem, de um mundo onde tudo ainda estava por ver, por nomear e por fazer.

Essa utopia finissecular não era nova. A América nascera de uma fantasia similar. A imaginação europeia projetara durante séculos a imagem de um paraíso terrenal sobre os despojos da conquista, sobrepondo uma topografia intelectual e fantástica ao território real, perpetuando a ficção de um mundo novo, puro, sem falhas. Os mares do sul não eram neste contexto um simples tropo literário, eram assunto de Estado.