Descrição
Este texto compôs uma palestra-performance feita por Ana Luisa Santos, tendo sido escrito e lido por ela durante a programação dos Diálogos Feministas – PPGAC, da Unirio. Nele, as palavras, assim como a voz, se apresentam como gesto e os desafios da linguagem verbal para a arte da performance são escancarados. Bambear a palavra, compor esculturas, passar um café, esgarçar as imagens, empilhar papéis e escrever à mão são gestos do corpo e da palavra em performance que o leitor aqui acompanhará por uma voz criada e recriada; essa voz que ocupa espaços e que se compõe no papel, na boca e no ambiente.
“Palavras não dão conta. Performers também não. Performers trabalham com materiais perigosos, às vezes, materiais íntimos, mais ou menos conhecidos, mais ou menos comuns. Performers falham, como seus materiais falham, e é nessa fissura que pode surgir uma abertura. Uma abertura de leitura. Performers não querem fechar o significado. Palestras-performances podem querer fazer do dizer um gesto aberto, expansivo, receptivo, convidativo, intrigante, curioso, por vezes, esquisito de agir. O gesto de falar como presença, aproximação, estar-com. É antidistônica. É a intimidade do ouvido. É a memória do corpo com a voz que embala. É o som que atravessa a placenta. É a resistência da escuta diante do enxame de informação. É a intuição de que se ouvir é respirar no incessante.”