n.15 | 2013 – O destino de todo futuro de se tornar passado

Pier Paolo Pasolini

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Descrição

Comecei exatamente ontem, dia 19 de março, a pintar, depois (salvo alguma exceção) de um período de quase trinta anos. não pude fazer nada nem com lápis, pastéis ou com nanquim. peguei um frasco de cola, desenhei e pintei, ao mesmo tempo, derramando diretamente o líquido na folha. existirá uma razão pela qual nunca tive vontade de frequentar uma escola de arte ou um curso acadêmico. a ideia de fazer algo tradicional me provoca náuseas, deixa-me literalmente mal. Há trinta anos também criava para mim algumas dificuldades materiais. Os desenhos daquele período, em sua maior parte, eram feitos com as pontas dos dedos completamente sujas, com as cores dos tubinhos sobre o papel celofane; ou desenhava diretamente com o tubinho de tinta, espremendo-o. especificamente em relação aos quadros, pintava-os numa tela de saco, mantida na medida do possível áspera e cheia de buracos, passando muito mal cola e gesso sobre a tela. no entanto, não se pode dizer que eu era (e eventualmente seja) um pintor materialista. interessa-me muito mais a “composição” – com seus contornos – do que a matéria. porém consigo fazer as formas que quero somente se a matéria é difícil, impossível; e, sobretudo, se, de algum modo, é “preciosa”.

Seleção, organização e tradução
Davi Pessoa Carneiro