Description
O dinheiro pode ser capaz de comprar até o diabo, como vemos nesta “Sonata” zapatista, mas não sem antes deixar por trás o rastro de escuridão que consome até o fim tudo o que toca, em geral quando acaba, também, o próprio dinheiro. A sonata, no entanto, anuncia não somente a forma da destruição e o fim de seu agente, mas acoplada ao fio que os liga, vê-se no horizonte uma crise à caminho. A crise anunciada se aproxima em movimento veloz. Sua morada se instala na periferia do capitalismo, onde prepara o epicentro de sua ação crescente.
“Uma crise complexa está sendo gestada. O que nos bunkers do grande capital se chama ‘uma tempestade perfeita’. O navio que chamamos ‘planeta terra’ está praticamente desmantelado e se mantém navegando graças ao mesmo que o devasta. Esse estúpido círculo mortal de destruir para reconstruir o destruído se esconde atrás das evidências falsas impregnadas no senso comum. A crença fundamental no poder individual, gerada desde que a história reescreveu o percurso do ser humano, construiu o mito do indivíduo capaz de tudo.
O ‘porém’ que se esconde atrás do mito da individualidade é que ele exime o sistema de sua responsabilidade mortal. Seres humanos, civilizações, idiomas, culturas, artes, ciências perecem digeridos no estômago da máquina. Mas a responsabilidade sistêmica se transfere ao indivíduo. É o indivíduo ou a indivídua a vítima e o carrasco. A mulher assassinada é a responsável pelos golpes que recebe, pelo estupro que sofre, pela sua própria desaparição, sua própria morte. É uma criminosa por ter sido vítima de um crime, e é um crime protestar contra esse crime. O mesmo para a infância, a velhice, a diferença de gênero, cultura, língua, cor, raça.”
Este projeto foi realizado com recursos da Lei Municipal de Incentivo à Cultura de Belo Horizonte. Projeto 1094/2020.