Descrição
“Resolvi dar ao senhor uma hora de literatura nova” — assim começa a carta de Arthur Rimbaud a Paul Demeny, incluída nestas Cartas visionárias. Através delas, Rimbaud inscreve uma nova função do poeta do final do século XIX e que se estende até os dias de hoje: “um multiplicador de progresso”, isto é, um multiplicador do novo. Não poderia mais haver lugar para aqueles que, como escreve Rimbaud, se diziam poetas, mas não passavam de meros funcionários, atuando no campo da imitação. Para ele, o poeta deve ser um visionário e para isso é necessário alcançar o desconhecido. Esse caminho mudaria radicalmente o paradigma identitário da modernidade, já que, para esse poeta do novo, o “eu” é vetor da multiplicidade, da diversidade e do devir — é também nas Cartas visionárias que Arthur Rimbaud afirma: “Eu é um outro”.
“O Poeta faz-se visionário por um longo, imenso e racional desregramento de todos os sentidos. Todas as formas de amor, de sofrimento, de loucura; ele busca a si mesmo, acaba-se em todos os venenos para guardar somente a quintessência. Inefável tortura na qual necessita de toda fé, de toda força sobre-humana, onde se torna, entre todos, o grande doente, o grande criminoso, o grande maldito — e o supremo Sábio! — Pois ele chega ao desconhecido! Visto que cultivou sua alma, já rica, mais do que a de qualquer outro! Ele chega ao desconhecido e quando, enlouquecido, acabaria por perder a inteligência de suas visões, ele as vê! Que ele se arrebente no seu sobressalto pelas coisas inauditas e inomináveis: virão outros trabalhadores horríveis; eles começarão pelos horizontes onde o outro se abateu.”
Este projeto foi realizado com recursos da Lei Municipal de Incentivo à Cultura de Belo Horizonte. Patrocínio UniBH. Projeto 0699/2017.