n.29 | 2014 – Bichos da Seda

Jacques Derrida

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Descrição

Antes dos meus treze anos, antes de alguma vez ter usado um tallith e antes mesmo de ter sonhado possuir o meu, cultivei (mas qual a relação?) bichos-da-seda, estas cochonilhas ou larvas de Bombix. Sei hoje que chamam a isso sericicultura (de Seres, os Seres, ao que parece, um povo da Índia oriental com o qual se fazia o comércio da seda). Nos quatro cantos de uma caixa de sapatos, tinham-me portanto iniciado a uma tal coisa, eu albergava e alimentava bichos-da-seda. Cada dia, pois eu teria querido fazer-me deste serviço o oficiante infatigável. Várias vezes por dia, era a mesma liturgia, era preciso oferecer-lhes, a estes pequenos ídolos indiferentes, folhas de amoreira. Semanas a fio, não me afastava do quarto, onde se encontrava a caixa, senão para ir à procura das amoreiras.

Tradução
Fernanda Bernardo