n.37 | 2015 – O romance dos romances e o contracânone

Leonardo Fróes

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Descrição

Ou bem se escreve por distinção e dinheiro — No man but a blockhead ever wrote, except for money, disse Samuel Johnson a James Boswell, em 1776 — ou bem por algum impulso profundo, a necessidade de expressar-se, que hoje talvez já nem se entenda. O pragmatismo de Johnson faz sentido quando situado em seu tempo. Foi no século XVIII, lançadas as bases da produção em série, que a indústria ocidental do livro se estabeleceu na Inglaterra com mais poder e clareza, fixando os moldes que desde então a norteiam. Johnson, filho superdotado de um modesto livreiro, viu-se forçado a interromper seus estudos na Universidade de Oxford quando a morte do pai o fez cair na pobreza. Para manter-se em Londres, não teve ele alternativa senão vender seu talento, transformando em capital o saber que havia acumulado por gosto. Há precedentes um pouco anteriores, como o de Pope, que conquistou independência econômica ao colocar junto à elite, por subscrição, suas traduções de Homero. Mas Johnson, que nunca escreveu nada de graça e foi capaz de redigir sozinho, em oito anos, os 40 mil verbetes do primeiro dicionário alentado da língua inglesa, é o exemplo mais cabal de um bem-sucedido protótipo da profissão literária.

Informação adicional

Ano

2015